ARMANDO CARDOSO – 50 anos na Fotografia ( continuação)

por
José Soudo

Á laia de exemplo, pensemos nos trabalhos de vulto de Jacob Riis (1849/1914), à volta da vida infeliz, dos mais infelizes da escala social, na cidade pejada de emigrantes, que era Nova Iorque no seu tempo e que tentou denunciar no livro How the other half lives - studies among the tenements of New York e que lhe veio a merecer grandes destaques e elogios do futuro presidente Roosevelt, devido ao seu empenho.

Também não se pode deixar de fora Lewis Wickes Hine (1874/1940), cujas fotografias enchem as paredes do Museu da Emigração, em Ellis Island, lado a lado com as de Riis, retratando a vida dos que chegavam como migrantes e depois eram encaminhados como operários para as fábricas, numa exploração sem regras e onde acima de tudo ainda era mais evidente a exploração desenfreada do trabalho infantil, o que levou a que o seu filho, depois do seu falecimento, ter considerado a Photo-League, a estrutura que merecia ser a zeladora da Lewis Hine Memorial Collection, tendo-lhes doado o trabalho do pai, em reconhecimento do papel que esta estrutura desenvolveu na promoção do ativismo social, através da fotografia.

A Photo-League ou Liga Fotográfica, fundada por Walker Evans (1903/1975) e não só, remonta as suas origens aos idos de 1930’s, quando os activistas do Workers International Relief - WIR, associação internacional dos trabalhadores comunistas, com sede em Berlim, criaram na cidade de Nova York a Liga dos Trabalhadores, também conhecida como a Liga do Cinema e da Fotografia, merecerá uma reflexão profunda, a qual não cabe neste texto, para não o alongar, mas que justifica o seu estudo, pois nesta associação empenhada numa fotografia militante, irão estar ao longo de cerca de duas décadas, alguns dos nomes mais brilhantes da fotografia de índole humanista do séc. XX.

Sobre a Photo-League, termino dizendo que incomodou tanto, que acabou por ser extinta em 1951, na sequência de acusações forjadas pelo FBI, baseadas em depoimentos falsos, que levaram a que a associação fosse colocada na lista negra do Supremo Tribunal Americano, constando da Lista das Organizações Subversivas da Procuradoria-Geral (AGLOSO), publicada a 20 de Março de 1948, no Federal Register.

Os fotógrafos que trabalharam na Photo League, acreditaram firmemente nas causas políticas e sociais que consideravam progressistas, respeitando os antecedentes e as origens políticas do grupo, nascido em Berlim, no movimento comunista – Arbeiterfotografen - Fotógrafos pelos Trabalhadores. Uma das vertentes mais denotativa do seu engajamento, encontra-se nos trabalhos que muitos deles realizaram para o departamento do governo americano, conhecido como Farm Security Administration, no período da designada “Grande Depressão”.
A revista LIFE teve muitos destes fotógrafos nos seus quadros.

Todo este manancial de trabalhos de Walker Evans e companheiros de luta na Photo-League, chegaram-nos, dum modo difuso a Portugal, nos idos de 50’s e 60’s e mesmo assim, muito filtrados pelo “lápis azul”..

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